sábado, 22 de agosto de 2015

The Babadook (Jennifer Kent, 2014)


  Sabe aquele filme que você quando você acaba de assistir, fica alguns segundos pensando sobre ele enquanto os créditos rolam e finalmente você pensa: "que porra foi essa?!"? The Bababdook é esse tipo filme/reflexão. Não que o filme seja ruim, até que o tipo de "porra" que eu falo é o tipo de "porra boa" (desculpe o trocadilho infame).

  
  The Babadook é simplesmente um dos filmes mais aterrorizantes e lacradores que eu já assisti em toda a minha vida e esse é um dos exemplos que me fazem ainda ter fé que no século XXI ainda pode nos proporcionar pequenas obras de artes como essa. Esse filme é dirigido por Jennifer Kent e levemente inspirado (eu acho) pelo curta Monster dela mesma e que dirigiu em 2005 e que está disponibilizado no YouTube (assista aqui, vale a pena a conferia). Esse filme provoca orgasmos em qualquer fã de filmes de terror antigos como eu e tem uma atmosfera opressora, sinistra e angustiante.


  Começando pelo roteiro também de Kent, que é divino. Ele conta a estória de uma mãe solteira, Amélia (Essie Davis) e o filho, Samuel (Noah Wiseman), uma criança nem um pouco fácil de se conviver, que são perseguidos por uma força sinistra e diabólica que se denomina The Bababook. Se não fosse pela mente geniosa de uma mulher, esse filme seria só mais um filme de terror. Temos que levar em consideração que esse filme é de uma mulher feito para mães que também são mulheres, e não só para pessoas que gostam de terror. Esse filme é muito mais que um simples terror. Ele é arte da sua forma mais pura e psicanalista. (Nesse ponto vou ter que entregar alguns SPOILERS) Nós podemos interpretar o Babadook (anagrama para A Bad Book), como uma metáfora para o sofrimento de Amélia (e é aí que entra a psicanálise), que perdeu o marido sete anos antes quando estava dando a luz, e aumentou quando ela teve que conviver com o pestinha a fazendo ficar mais amargurada ainda, e o final prova essa tese. Não podemos nos livrar do sofrimento, mas podemos conviver com ele (fim do SPOILER). Esse é um dos fatores que fazem esse filme ser genial, e o melhor do ano de 2014. 

  Geralmente os meus parágrafos de direção de fotografia são apenas pequenos parágrafos irrelevantes, mas esse aqui com certeza não vai ser. Essa direção de fotografia é A direção de fotografia. Foi feita por Radoslaw Ladczuk e ela é uma das melhores que eu já vi. Ela pega muito do expressionismo alemão e do gótico, e passa aquele sentimento de opressão que Kent quer imprimir no filme. As cores são sórdidas e opressivas, as cores mesmo sendo lindas elas passam uma atmosfera de sufocamento e desânimo, esmo quando está de dia, o filme não passa em nenhum momento algum tipo de felicidade, como se tudo nele fosse infausto e relapso para que o sofrimento de Amélia se aumentasse o filme inteiro até atingir o seu ápice no final perturbador e inesperado.

  A câmera de Kent é muito boa. Ela captura todos os movimentos de Amélia, sempre em planos fechados e abertos, foques e desfoques, além de ângulos estranhos, como por exemplo a cena da prima de Samuel, quando as mães das crianças estão conversando entre si. A angulação mostra sempre Amélia debaixo, como se ela fosse um ser sem importância e insignificante. A direção também passa aquela atmosfera de opressão que ela quer passar no filme.

  E sobre as atuações... Nossa, são aquelas atuações que lacram até quem acha que o filme é ruim. Essie Davis (a eterna Miss Fisher) samba na cara das inimigas nessa atuação incrível. Logo no início já podemos perceber só pelo olhar que a vida dela é muito árdua e desagradável, é aquele tipo de olhar que já desistiu de tudo. Um olhar de um suicida a beira da morte. A atuação do pequeno Noah é das mais impertinentes de todas! Dá vontade de dar uns belos catiripapos bem fortes no garoto para ele parar de ser tão desprezível. Mas com o passar do tempo do filme, ele se torna um herói e faz de tudo para tentar salvar a mãe do ser demoníaco que é o Babadook. Tim Purcell dá vida ao Bababook e aqui ele nos mostra um monstro amedrontador e bem convincente, com os seus olhares e aquele sorriso sinistro.


  William Friedkin disse que esse filme é o filme mais aterrorizante que ele já viu, e não é para menos. Ele é perfeito, lindo e poético além de amedrontador e cumpre a palavra de nos deixar com medo. O filme também faz muitas referências a vários filmes do início do kinema. E também faz referência a um dos maiores e mais influentes cineasta que já existiu (e que é o diretor favorito do ser que vos escreve): Mario Bava. Não só direta, como o filme I Tre Volti della Paura que o seguimento La Goccia D'Acqua, o seguimento mais angustiante do filme, como indireta. O próprio enredo é uma referência de Schock o último filme de Mario Bava, e esse é mais um dos motivos que vale a pena ver.
  
  Ah, e para avisar: ele não tem cenas de jump scare e tem um final que não vai agradar a todos, então se você é um desses que gosta de jump scare e de um final clichê em um filme de terror, passe bem longe desse e do meu blog. Ele está disponível no Netfix, então se você quer ver e é assinante, por que diabos está perdendo tempo? Assiste logo!

nota: 9,8

Ficha técnica:
título: The Babadook
produção: Kristina Ceyton, Kristian Moliere
direção: Jennifer Kent
roteiro: Jennifer Kent
com: Essie Davis, Noah Wiseman, Barbara West
cinematografia: Radek Ladczuk (creditado como Radoslaw Ladczuk)
duração: 93 (1hr 33min)
gênero: drama, horror
data de lançamento: 24 de maio de 2014
nacionalidade: Austrália

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